terça-feira, 19 de junho de 2012

historia do acre


PLÁCIDO DE CASTRO
1. O HOMEM
Em 9 de dezembro de 1873, na Vila de São Gabriel, região da Campanha do Rio Grande do Sul, nascia JOSÉ PLÁCIDO DE CASTRO, filho de uma família muito humilde. Seus antepassados foram militares, que lutaram nas guerras do século 19, no sul. A casa de seu pai era ponto de encontro de veteranos da Guerra do Paraguai, que recordavam e contavam lances do conflito. O jovem José criou-se ouvindo e assimilando tudo aquilo. Aos 11 anos perde o pai, tendo que trabalhar em uma loja de tecidos para ajudar a família. E eram ao todo seis filhos. Uma infância infeliz. Com esforço, estuda à noite, voltando para casa tarde, e cansado. Este tipo de vida amadurece-o. Nesta altura, um amigo de seu falecido pai propõe-se a pagar seus estudos em um bom colégio. Plácido aceita, embora isto implique em não trabalhar mais, deixando assim de ajudar sua família. E, antes de um ano, larga o colégio e volta ao trabalho, por puro dever de consciência, desta vez numa ourivesaria. Rapidamente, pela dedicação, ganha a confiança de seu patrão. Enquanto isso, alimenta uma vontade: a carreira militar.
De fato, a 27 de dezembro de 1889, o jovem de 16 anos senta praça no 1º Regimento de Artilharia de Campanha (1º RAC), unidade sediada, na época, em São Gabriel. Após alguns meses consegue matrícula na antiga Escola Tática de Rio Pardo, onde se destaca pela conduta e aplicação. Em 1892 já é 2º Sargento, retornando ao 1º RAC. Ali aguarda a realização de outro desejo, o qual se concretiza no ano seguinte: a matrícula na Escola Militar de Porto Alegre, antecessora do hoje Colégio Militar.
A dedicação de José Plácido é ardorosa. Vive para o estudo, inclusive nas horas de folga. Só abandona os livros para escrever para sua mãe. Não toma conhecimento da agitação política do País, há poucos anos tornado uma República, pelo Marechal Deodoro da Fonseca, e agora, sob o regime forte e centralizador de Floriano Peixoto, o Marechal de Ferro.
No Rio Grande do Sul começa a borbulhar a Revolução Federalista de 1893, sob a liderança de Gaspar Silveira Martins. Os Maragatos de Silveira Martins, Joca Tavares e Gumercindo Saraiva, entre outros, federalistas, contra os Pica-Paus, governistas de Floriano Peixoto e Júlio de Castilhos. José Plácido não quer tomar partido. Interessa-o mais a carreira que está iniciando. Mas nutre uma certa simpatia, não manifesta, pelos maragatos federalistas, e seus colegas cobram-lhe uma posição definida. Na Escola, os florianistas/castilhistas são maioria, e fazem um Manifesto, pedindo o fechamento do Estabelecimento de Ensino, para que assim possam engrossar as fileiras governistas. Plácido recusa-se a assinar o Manifesto. A Escola é fechada e ele recolhido preso como suspeito ao 13º Batalhão de Infantaria (13ºBI). Em seguida, sempre como "suspeito", foi transferido para Bagé, e depois para Rio Negro, região próxima àquela cidade, onde desempenhou serviços internos, sem poder usar armas de fogo. Desde sua prisão rumina revolta e rancor, privado que foi de uma carreira promissora. Na véspera do combate de Rio Negro entregam-lhe uma arma, com a missão de rondar os piquetes-sentinelas que vigiam a força revolucionária, a qual fazia cerco ao local. Chegando ao último piquete esporeia sua montada, transpõe o pequeno riacho e dirige-se ao exército revolucionário, onde é levado à presença de Joca Tavares. Adere então ao movimento federalista, definindo uma posição política que, no coração, já existia. A partir daí destaca-se na luta, pelo destemor nos combates. Os comandantes de tropa o disputam, pela sua coragem e bravura. Galga rapidamente as graduações e é promovido a oficial. Em 1895, com apenas vinte e um anos, é promovido a Major, por heroísmo nos combates do Caverá e do Vacacaí.
Terminada a Revolução, José Plácido afastou-se da vida militar, retornando ao seio de sua família em São Gabriel. Mas em seguida toma o destino do Rio de Janeiro, onde consegue emprego de Guarda no Colégio Militar, função civil. Rapidamente é promovido a Inspetor de Alunos. Aproveita para assistir aulas "como ouvinte". Fascina-o a Geografia. E foi justamente um oficial, professor da matéria, conhecido pelo gênio explosivo, que, em conseqüência de um mal-entendido, o repreendeu severamente, expulsando-o da sala. Despedido, aceitou uma oferta para trabalhar nas Docas de Santos, em março de 1898, onde praticou o ofício de agrimensor, reunindo recursos que se destinaram à viagem para a Amazônia, para demarcar seringais, atendendo convite de outro gaúcho, o Engenheiro Orlando Corrêa Lopes, que já pregava a necessidade de uma reação armada no Acre.
2. ANTECEDENTES DA REVOLUÇÃO
Desde 1867 o Acre pertencia à Bolívia, por força do Tratado de Ayacucho, mas somente a partir de 1899 a região passou a ser cobiçada e ameaçada pelos trustes norte-americanos, com a ingênua conivência boliviana, através da empresa "The Bolivian Syndicate Of New York City in North-America". Nome tão pomposo quanto o imperialismo que continha. A empresa era presidida por um filho de Theodore Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos. Um típico testa-de-ferro. A Bolivian Syndicate propunha desenvolver o Acre, mas exigia, entre outras coisas, direitos fiscais e policiais absolutos, exclusividade na exploração vegetal e mineral, um exército e uma esquadra armados, livre navegação nos afluentes do Solimões, livre trânsito alfandegário em Belém e Manaus e 50% dos direitos, por dez anos, sobre a borracha acreana. Em caso de guerra com o Brasil exigia também que a Bolívia denunciasse o Tratado de 1867,entregando uma parte do território, (a maior parte), em livre posse, aos Estados Unidos da América!! Claramente, uma insuportável arrogância. Conforme Cláudio Moreira Bento, um verdadeiro Cavalo de Tróia. Mas qual era o interesse afinal? O látex de borracha. Este nome, borracha, vem de antigas bolsas de couro chamadas de "borrachas". Aquelas bolsas passaram a ser feitas da goma de látex das seringueiras, daí o nome. Mas a borracha passou a ter, desde 1745, com o francês La Condamine, múltiplas aplicações, o que a tornou preciosa. Principalmente a partir de 1839, quando Charles Goodyear inventou o processo da "vulcanização".
A presença da Bolivian Syndicate, com direito a manter forças armadas no Acre, seria uma grave ameaça à integridade da América do Sul. Em torno de 60 mil seringueiros e seringalistas acreanos eram brasileiros, na maior parte nordestinos, que haviam ocupado a região entre 1870/80. Ainda bem, porque foram eles que impediram os americanos de tomar conta da região. Naquela época o Acre já era boliviano. Em 1899, o aventureiro espanhol Luís Galvez Rodrigues de Arias, funcionário do Consulado da Bolívia em Belém, insuflado por outros revolucionários, já sob a ameaça da Bolivian Syndicate, desembarca no Acre e proclama o "Estado Independente do Acre", tomando a si o cargo de Presidente. Cinco meses depois foi deposto, preso e deportado para Pernambuco. Na verdade, a Bolívia havia solicitado ao Brasil que restabelecesse a ordem, o que foi atendido através de uma flotilha da Marinha sob o comando do Capitão-Tenente Raimundo Ferreira. Mas a iniciativa de Galvez tinha deixado a semente da revolta no coração dos acreanos. Os líderes revolucionários eram os gaúchos Orlando Corrêa Lopes e Gentil Tristão Norberto. Mas faltava alguém com espírito de liderança e experiência de combate. O escolhido foi Plácido de Castro, que na época encontrava-se no Acre, explorando os seringais.
Plácido não aceitou inicialmente o convite, dado o seu estado de saúde, acometido que estava de paludismo (malária) e beribéri. Viajou para o Ceará, em busca de tratamento. Em fevereiro de 1902, já restabelecido, ao passar por Manaus, recebe a visita de outro revolucionário, Rodrigo de Carvalho, funcionário público brasileiro em atividade na fronteira do Brasil com o Acre boliviano. Convidado, desta vez aceita liderar a revolução, mas com diversas condições, as quais foram prontamente aceitas por Rodrigo e pelos demais líderes. Eram brasileiros montando uma revolução para proteger uma região que não pertencia ao Brasil. A luta não seria contra a Bolívia, mas sim, contra a Bolivian Syndicate.
Inicialmente, Plácido recorre os seringais. Vai de barraca em barraca. Fala com todos. Esclarece, anima, estimula, passa instruções, e obtém a adesão de todos. A 01 de julho de 1902, em reunião com os líderes, marca a data de início do movimento armado: 06 de agosto, data da independência da Bolívia, com início em Xapuri, no Alto-Acre, onde estava situado o principal entreposto boliviano de mercadorias. A obtenção dos diversos tipos de suprimentos está confiada ao revolucionário José Galdino, um dos homens mais ricos da região. O suporte financeiro do apoio logístico em pessoal e material estava assegurado, o que era fundamental. As operações militares por sua vez, estão planejadas no cérebro de José Plácido, levando em conta o terreno, a cobertura vegetal e as vias de acesso fluviais, além das possibilidades do inimigo. Dispõe inicialmente de apenas trinta e três homens, todos devidamente preparados e conhecedores da região.
3. A LUTA
Na madrugada de 06 de agosto, o pequeno exército invade Xapuri, ocupando os principais prédios existentes e surpreendendo totalmente os ocupantes. Plácido penetra na sede da Intendência (Prefeitura) e prende o Intendente Don Juan de Dios Barrientos. Outras autoridades locais são igualmente presas. Os habitantes porém apoiam a revolução e confraternizam com os revolucionários. Imediatamente, o gaúcho de São Gabriel proclama o Estado Independente do Acre, manda hastear a Bandeira Acreana e lavrar a Ata de Independência, fazendo com que todos os presentes a assinassem. Uma cópia é enviada ao Delegado Nacional da Bolívia, em Puerto Acre. Plácido sabia que tinha de ser ousado, senão não conseguiria nada. Mas não era só, e ele sabia disso. Prepara-se então para enfrentar as tropas do Exército Boliviano que, já se sabia, estavam sendo transportadas para a região. Decide adotar a tática da emboscada, para compensar a inferioridade numérica. O local seria em Volta da Empresa (atual Rio Branco). Mas no deslocamento, embora já contando com 63 homens, foi surpreendido numa contra-emboscada por 200 soldados do Coronel boliviano Rosendo Rojas, amargando assim uma brutal derrota. Vinte e seis mortos e seis desaparecidos são o saldo da retirada de Plácido da zona de emboscada. A derrota de 18 de setembro não foi maior porque os bolivianos não realizaram a perseguição. Mas o caudilho tira o máximo de lições da derrota. Reorganiza sua tropa, obtém mais efetivo, alcançando 200 homens, e decide atacar na localidade Volta da Empresa, onde está concentrada a tropa do Cel Rojas. O ataque fica marcado para 05 de outubro. A técnica a ser usada será o sítio à localidade e o desgaste da tropa sitiada. E as coisas ocorrem conforme o planejado. Quatro dias após o cerco, Plácido de Castro intima Rojas à rendição, mas este recusa. O cerco continua por mais seis dias, quando então o Cel boliviano decide render-se. No encontro dos dois comandantes, Rosendo Rojas quer entregar sua espada para Castro, mas este recusou dizendo: - Não, Coronel, guardai a vossa espada, pois sois um bravo! -. O boliviano surpreendeu-se com a atitude positiva do brasileiro, e as duas mãos se apertaram, num gesto de simpatia.
Mas ainda não era o fim. É necessário vencer as forças bolivianas estacionadas em Puerto Acre, último objetivo a ser conquistado. Três meses depois, portanto, as forças do nosso caudilho já estão operando em torno de Puerto Acre. A 08 de janeiro de 1903 o cerco à localidade e o bloqueio do Rio Acre estão prontos. É possível depreender o quanto as forças militares bolivianas eram mal preparadas. José Plácido manda então um ofício ao Delegado Nacional, Dom Lino Romero, avisando-o que o ataque será no dia seguinte, 14 de janeiro, às 1000 h. Pretende assim obter mais vantagem psicológica e obter a rendição dos bolivianos sem luta, poupando vidas. Oferece inclusive seu hospital de campanha, para atender os feridos inimigos, se for o caso. Mas Lino Romero não se rende e recusa o hospital.
Às 0900 h desemboca o ataque. Após cinco horas de combate os revolucionários já haviam conquistado posições vantajosas na periferia. Neste mesmo dia o Ten Cel Manoel Canseco, comandante das tropas, morre atingido por um tiro. O combate continua, e Plácido, mesmo com cinqüenta baixas, não esmorece. A sede torna-se um problema alarmante, devido às altas temperaturas. O grupo destacado para trazer água precisa enfrentar o fogo inimigo para chegar ao rio e retornar com o precioso líquido, em bolsas apropriadas. E assim foi por diversas vezes. Os revolucionários aguardam a chegada do navio Independência, que é armado com canhões, trazendo também reforço de tropas e suprimentos, mas os bolivianos atravessam uma grossa corrente de uma à outra margem do rio. Plácido consegue voluntários para cortar a corrente com limas. Trabalho tão necessário quanto perigoso, porque o obstáculo é batido por fogos. Mas os homens conseguem, e o Independência chega, protegido nas laterais por 15 toneladas de látex de borracha, o que o torna um verdadeiro encouraçado. A chegada do navio dá novo ânimo aos sitiantes. E o sítio se fecha. À noite, com chuva, os bolivianos começam a se desesperar. Quando a chuva cessa, Plácido manda incendiar a Vila com flechas, cujas pontas têm chumaços de estopa ensopados de querosene. A 23 de janeiro (14 dias após o início do ataque), os bolivianos hasteiam uma bandeira branca; mas não é a rendição e sim uma proposta de trégua para enterrar os mortos. Plácido não aceita e manda o emissário boliviano de volta, convencido que era somente um estratagema para ganhar tempo e localizar o Posto de Comando brasileiro. Imediatamente o fogo recrudesceu, mas Castro já havia trocado seu PC para outro local. E aperta mais o cerco. No dia seguinte, 24, finalmente a rendição. O comandante brasileiro encontra-se com o Delegado Lino Romero e com o Coronel José Ruiz. Enquanto se lavra a ata de rendição José Plácido explica que nada tem contra a Bolívia, exalta a bravura dos bolivianos e destaca que sua luta é contra a Bolivian Syndicate. Em seguida é lida a Ata de Capitulação de Puerto Acre, assinada por todos os presentes e organizada uma formatura das tropas. Nessa ocasião a bandeira da Bolívia foi arriada e os vencidos iniciaram a entrega das armas aos vencedores, começando por Lino Romero. Mas José Plácido de Castro não aceita, para não ofender a dignidade dos bolivianos. Romero agradece emocionado, em nome de seus homens. À noite, os prisioneiros são embarcados no Independência e levados para Caquetá, de onde seguirão para Manaus.
Plácido de Castro manda hastear a Bandeira Acreana, com as cores verde e amarela, e uma estrela vermelha. Está terminada a luta. Termina a Revolução. O Acre está livre do imperialismo norte-americano. Durante todo o tempo da revolução não se viu um só representante da Bolivian Syndicate na área. José Plácido de Castro é Governador do Estado Independente do Acre e Comandante-em-Chefe do Exército Acreano.
Nesta altura dos acontecimentos, o governo brasileiro já havia mandado uma expedição para o Acre, comandada pelo General Antonio Olímpio da Silveira. A 03 de abril, Plácido e o Gen Olímpio encontram-se em Porto Acre. Após esta entrevista, na qual inteirou-se dos fatos, o general segue para o Acre Setentrional (Norte). Uma semana depois informa a Castro que ocupara militarmente a região, e assumido o govêrno. Plácido não aceita, e decreta a transferência de seu governo para Xapuri, no Acre Meridional (Sul). Estava criado o impasse. Respeita as decisões do governo brasileiro, mas não pode deixar de garantir os direitos conquistados pela Revolução. No deslocamento para Xapuri o brasileiro encontra-se novamente com o general e acertam o que fazer, já que a Bolívia tornou a enviar tropas para a região. De fato, em abril as operações militares reiniciam, mas agora já não mais contra a Bolivian Syndicate e sim contra o Exército Boliviano, comandado pelo próprio Presidente da República, General José Manuel Pando. Após vários dias de combate, as tropas bolivianas, cercadas pelo exército de Plácido de Castro em Puerto Rico, já não suportam a fome, quando chega a notícia do acordo Brasil-Bolívia, de 21 de março de 1903, que estabeleceu a ocupação militar, a pedido do governo boliviano. Soube-se então que a Bolivian Syndicate, face ao fracasso militar, havia tentado subornar a população acreana, tendo sido repelida. Financiou então, na Bolívia, a expedição já citada. A diplomacia brasileira entra em cena, com o Barão do Rio Branco. Cessam imediatamente as hostilidades. Plácido dissolve o Exército Acreano. Tinham sido 171 dias de árdua campanha, porém vitoriosa.
4. A CONSAGRAÇÃO
Em Manaus, a prova do reconhecimento: autoridades, povo e imprensa exaltam o caudilho gaúcho. No Rio de Janeiro, o Barão do Rio Branco propõe à Bolívia a compra do Acre. Em agosto, o governo brasileiro convoca o Exército Acreano de Plácido de Castro e empossa este no governo do Território e no comando das forças militares, até que a situação fique completamente definida. Foi a glória para o gaúcho de São Gabriel, que foi fazer uma revolução tão longe dos pagos.
Em 17 de novembro de 1903, através do Tratado de Petrópolis, o Brasil compra o Acre da Bolívia por dois milhões de libras esterlinas, mais a construção da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré.
E Plácido de Castro volta ao trabalho de seringalista. Já não é mais governador nem comandante. Com a tenacidade e empenho de sempre torna-se um próspero produtor de borracha. Trabalha de sol a sol. A maior parte de suas terras fica em território boliviano. Em junho de 1906 é nomeado Prefeito de Alto-Acre. Ocupa a função por dois anos, quando aproveita para propor ao governo federal soluções para os problemas locais.
A uma certa altura dos acontecimentos, começa a sentir-se traído. Surgem intrigas e calúnias, que muito o incomodam, mas continua a trabalhar. Em seguida identifica o novo inimigo. É Alexandrino José da Silva, antes seu subordinado, na revolução, agora Sub-delegado de Polícia de Alto-Acre, que estava, entre outros desmandos, extrapolando suas funções policiais, prejudicando a população, acobertado pelo Prefeito, o que Plácido não aceita. Enquanto se prepara para enfrentar este novo desafio, decide providenciar a venda de seus bens, a transferência de sua casa comercial para seu irmão Genesco de Castro, e regressar para o Rio Grande do Sul, onde o aguarda sua noiva. Já tinha cumprido sua missão no Acre.
5. O FIM TRÁGICO
A 09 de agosto de 1908, ao voltar da Vila de Rio Branco para Capatará, Plácido e alguns companheiros foram emboscados. Mortalmente ferido, escapa do local, socorrido pelo irmão, e vai para a localidade de Benfica, onde é operado por dois médicos, mas as esperanças diminuem sem parar. Na tarde de 11 de agosto o caudilho libertador do Acre expirou. Seus assassinos nunca foram claramente identificados, mas a causa presumida foi vingança. Teve assim o mesmo destino trágico de seu avô, do qual herdou o nome, o major do Exército José Plácido de Castro.
Hoje, no local onde ocorreu a emboscada, existe um mármore registrando o fato, e os restos mortais de Plácido de Castro estão sepultados no Cemitério da Santa Casa, em Porto Alegre.
Esta é, em poucas palavras, a epopéia do Libertador do Acre, o guerreiro da campanha anti-imperialista, o gaúcho de São Gabriel, José Plácido de Castro.
Sua lição não pode nunca ser esquecida.

historia do acre


Acre

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Estado do Acre
Bandeira do Acre
Brasão do Acre
(Bandeira)(Brasão)
HinoHino do Acre
Gentílicoacreano/acriano[1]

Localização do Acre no Brasil
Localização
 - RegiãoNorte
 - Estados limítrofesPeruBolíviaAmazonas eRondônia
 - Mesorregiões2
 - Microrregiões5
 - Municípios22
CapitalRio Branco
Governo2011 a 2015
 - Governador(a)Tião Viana (PT)
 - Vice-governador(a)Carlos César de Messias (PP)
 - Deputados federais8
 - Deputados estaduais24
 - SenadoresAníbal Diniz (PT)
Jorge Viana (PT)
Sérgio Petecão (PSD)
Área 
 - Total164 122,280 km² (16º[2]
População2011
 - Estimativa746 375 hab. (25º)[3]
 - Densidade4,55 hab./km² (23º)
Economia2007[4]
 - PIBR$5.761.000 (26º)
 - PIB per capitaR$8.789 (18º)
Indicadores2008[5]
 - Esper. de vida71,7 anos (15º)
 - Mort. infantil29,8‰ nasc. (20º)
 - Analfabetismo13,8% (17º)
 - IDH (2005)0,751 (17º) – médio[6]
Fuso horárioUTC-4
ClimaEquatorial Úmido Af, Am
Cód. ISO 3166-2BR-AC
Site governamentalwww.ac.gov.br

Mapa do Acre
Acre é uma das 27 unidades federativas do Brasil.[7] Está situado no sudoeste da região Norte e tem como limites os estados do Amazonas a norte, Rondônia a leste, a Bolívia a sudeste e o Peru ao sul e oeste.[8] Ocupa uma área de 152.581,4 km²,[9] sendo pouco menor que a Tunísia.[10] Sua superfície equivale a menos de 2% do total do país.[11] É um dos estados menos povoados do Brasil e foi o último a ser efetivamente povoado.[11] Nele está o ponto extremo oeste do Brasil.[12] Sua capital é a cidade de Rio Branco.[13] Outras localidades importantes são: Cruzeiro do SulFeijóSena MadureiraSenador Guiomard e Tarauacá.[14]
Só em 1877 começaram a chegar no Acre — que na época era território boliviano — os primeiros colonizadores quase todosnordestinos em busca da borracha encontrada na Floresta Amazônica.[15] No final do século XIX, já havia na região 50 milbrasileiros.[11] Os seringueiros entraram em luta com as tropas para ocupar a região e, em 1903, sob a liderança do gaúchoPlácido de Castro, proclamaram o Estado Independente do Acre.[16] O governo brasileiro ocupou então militarmente a região e, em seguida, entrou em conversações diplomáticas com a Bolívia.[16] Como resultado, o Acre foi comprado pelo Brasil à Bolívia.[16]
Criado como Território Federal em 1904,[17] o Acre foi elevado à categoria de Estado em 1962.[18] A produção de borracha, que promoveu sua ocupação e seu desenvolvimento, entrou em decadência a partir de 1913.[19] Mas, ainda hoje, o Acre é um dos maiores estados brasileiros na produção e exportação de borracha (hévea-latex coagulado).[20]
Um planalto com altitude média de 200m domina grande parte do Acre.[21] JuruáTarauacáMuruEmbirá e Xapuri são seus rios mais importantes.[21] A economia do Estado se baseia na extração da borracha e da castanha, na pecuária e naagricultura.[21] Com duas horas a menos em relação ao fuso horário de Brasília (DF), nela se localiza o último povoamento do Brasil a ver o sol nascer, na serra da Moa, na fronteira com o Peru. A intensa atividade extrativista, que atingiu o auge noséculo XX, atrai brasileiros de várias regiões para o estado. Da mistura de tradições sulistaspaulistas, nordestinas eindígenas surgiu uma culinária diversificada, que junta a carne-de-sol com o pirarucu, peixe típico da região, pratos regados com tucupi, molho feito de mandioca. O transporte fluvial, concentrado nos rios Juruá e Moa, a oeste do estado, e Tarauacá e Envira, a noroeste, é um dos principais meio de circulação, juntamente com a BR-364, que liga Rio Branco a Cruzeiro do Sul e que foi recentemente asfaltada e dotada de pontes onde antes existiam travessias por balsas.[22]

Índice

  [esconder

[editar]Etimologia

Mapa da Bacia Amazônica com o Rio Acre em destaque.
nome, que passou do rio ao território, em 1904, e ao estado, em 1962, origina-se, talvez, do tupi a'kir ü "rio verde" ou da forma a'kir, de ker, "dormir, sossegar", mas é quase certo que seja uma deformação de Aquiri, modo pelo qual os exploradores da região grafaram UmákürüUakiry, vocábulo do dialeto Ipurinã. Há também a hipótese de Aquiri derivar de Yasi'riYsi'ri, "água corrente, veloz".[23]
Na viagem que fez ao rio Purus, em 1878, o colonizador João Gabriel de Carvalho Melo escreveu de lá ao comerciante paraense visconde de Santo Elias, pedindo-lhe mercadorias destinadas à "boca do rio Aquiri". Como em Belém, o dono e os empregados do estabelecimento comercial não conseguissem entender a letra de João Gabriel ou porque este, apressadamente, tivesse grafado Acri ou Aqri, em vez de Aquiri, as mercadorias e faturas chegaram ao colonizador como destinadas ao rio Acre.[23]
O Acre possui alguns apelidos: Extremo do Brasil, Estado das Seringueiras, Estado do Látex e Extremo Oeste.[24]
Os habitantes naturais do Acre são denominados acrianos.[25] No singular o gentílico é acriano. Até a entrada em vigor do Acordo Ortográfico de 1990, a grafia correta era acreano no singular e no plural acreanos.[25] Em 2009, com o novo acordo ortográfico, a mudança do gentílico gerou polêmica entre a Academia Acreana de Letras e a Academia Brasileira de Letras, alegando que a mudança significaria a negação das raízes históricas e culturais do estado, mudando a última letra do topônimo de "E" para "I".[26] Embora ainda gere discussões sobre o assunto, é notório que a imensa maioria da população do estado não gostou e não adotou o "novo" gentílico, continuando a se autodenominarem acreanos.[24]

[editar]História

Mapa do final do século XIX, em que o Acre aparece como parte da Bolívia.
Na região do atual estado do Acre foram encontrados inúmeros Geoglifos (estruturas feitas no solo), com idade variável em até 2100 anos. Pela complexidade remontam à civilizações pré-colombianas de elevado grau de conhecimento em várias áreas e domínio de avançadas técnicas de movimentação de terra e água. As últimas escavações fizeram uma descoberta importante em Xapuri: um buraco de esteio em boas condições foi localizado em um geoglifo de formato redondo, reforçando a tese de que os índios daquela época poderiam ter usado fortificações paliçadas para habitação e segurança.[27]
Até o início do século XX o Acre pertencia à Bolívia. Porém, desde o princípio do século XIX, grande parte de sua população era de brasileiros que exploravam seringais e que, na prática, acabaram criando um território independente.
Em 1899, os bolivianos tentaram assegurar o controle da área, mas os brasileiros se revoltaram e houve confrontos fronteiriços, gerando o episódio que ficou conhecido como a Revolução Acreana.
Em 17 de novembro de 1903, com a assinatura do Tratado de Petrópolis, o Brasil recebeu a posse definitiva da região. O Acre foi então integrado ao Brasil como território, dividido em três departamentos. O território passou para o domínio brasileiro em troca do pagamento de dois milhões de libras esterlinas, de terras de Mato Grosso e do acordo de construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.
Palácio Rio Branco, sede do governo, e obelisco em homenagem aos heróis da Revolução Acreana.
Tendo sido unificado em 1920, em 15 de junho de 1962 foi elevado à categoria de estado, sendo o primeiro a ser governado por uma brasileira, a professora Iolanda Fleming.
Durante a segunda guerra mundial, os seringais da Malásia foram tomados pelos japoneses, e o Acre dessa forma representou um grande marco na história Ocidental e Mundial, mudando o curso da guerra a favor dos Aliados e graças aos Soldados da Borrachaoriundos principalmente do sertão do Ceará (Ver: Segundo ciclo da borracha).
E foi sem dúvida graças ao Acre e sua contribuição decisiva na vitória dos Aliados, que o Brasil conseguiu recursos norte-americanos para construir a Companhia Siderúrgica Nacional, e assim alavancar a industrialização até então estagnada do Centro-sul, que não possuía ainda indústrias pesadas de base (Ver: Acordos de Washington).
Em 4 de abril de 2008, o Acre venceu uma questão judicial com o Estado do Amazonas em relação ao litígio em torno da Linha Cunha Gomes, que culminou no anexo de parte dos municípios de EnviraGuajaráBoca do AcrePauiniEirunepé e Ipixuna. A redefinição territorial consolidou a inclusão de 1,2 milhão de hectares do complexo florestal Liberdade, Gregório e Mogno ao território do Acre, o que corresponde a 11.583,87 km².

[editar]Povoamento inicial

As secas nordestinas e o apelo econômico da borracha — produto que no fim do século XIX começava sua trajetória de preços altos nos mercados internacionais — inscrevem-se entre as causas predominantes na movimentação de massas humanas em busca do Eldorado acreano.[28] As penetrações portuguesas do período colonial já haviam atingido seus pontos máximos no Brasil durante o século XVIII.[29] Conseqüência inevitável foi a dilatação do horizonte geográfico na direção oeste, atingindo terras de posse espanhola, fato que se tornou matéria dos tratados de Madri (1750)[30] e de Santo Ildefonso (1777).[31] Ambos os tratados, partindo das explorações feitas por Manuel Félix de Leme nas bacias doGuaporé e do Madeira, estabeleceram como linha divisória das possessões respectivas, na área em questão, os leitos do Mamoré e do Guaporé até seu limite máximo ocidental, na margem esquerda do Javari.[32][33][28]
O povoamento da zona, estimulado pela criação da nova capitania real de Mato Grosso (1751), deu-se na direção da fronteira, surgindo alguns centros importantes: Vila Bela(1752),[34] às margens do Guaporé, Vila Maria (1778),[35] no rio Paraguai, e Casalvasco (1783).[28] Até meados do século XIX não se pensou em povoamento sistemático da área.[28] Nessa época, o grande manancial virgem de borracha que aí se encontra atraíra o interesse mundial, provocando sua colonização de modo inteiramente espontâneo.[28]
política econômica do império, orientada para a atividade agrário-exportadora com base no café,[36] não comportava o aproveitamento e a incorporação dos territórios do extremo ocidental. Desse descaso resultou que no Atlas do Império do Brasil (1868), de Cândido Mendes de Almeida, modelar em seu tempo, não figurassem o rio Acre e seus principaistributários, completamente desconhecidos dos geógrafos.[37][28]
Apesar de tal política, alguns sertanistas brasileiros exploravam aquela região agreste e despovoada, desconhecendo se pertenciam ao Brasil, ao Peru ou à Bolívia.[38][39][28]Assim, ainda em meados do século XIX, no impulso que a procura da borracha ocasionou, solicitada que era no mercado internacional, várias expedições esquadrinharam a área, buscando facilitar a instalação dos colonos. Nessa época, João Rodrigues Cametá iniciou a conquista do rio Purus;[40] Manuel Urbano da Encarnação, índio mura grande conhecedor da região, atingiu o rio Acre, subindo-o até as proximidades do Xapuri;[40] e João da Cunha Correia alcançou a bacia do alto Tarauacá.[41] Todo esse desbravamento se deu, na maior parte, em terras bolivianas.[28]
As atividades exploradoras, a importância industrial das reservas de borracha e a penetração de colonos brasileiros na região suscitaram o interesse da Bolívia, que solicitou melhor fixação de limites.[28] Após várias negociações fracassadas, em 1867 assinou-se o Tratado de Ayacucho, que reconhecia o uti possidetis colonial.[42] A divisória foi estabelecida pelo paralelo da confluência dos rios Beni-Mamoré, em direção ao leste, até a nascente do Javari, embora ainda não fossem conhecidas as cabeceiras desse rio.[28]

[editar]Ocupação nordestina

À proporção que subia no mercado o preço da borracha,[43] crescia a demanda e aumentava a corrida para a Amazônia.[nota 1] Os seringais multiplicavam-se, assim, pelos vales doAcre, do Purus e, mais a oeste, do Tarauacá: em um ano (1873-1874), na bacia do Purus, a população subiu de cerca de mil para quatro mil habitantes. Por outro lado, o governo imperial, já sensível às ofertas decorrentes da procura da borracha, considerou brasileiro todo o vale do Purus.[28]
Também na segunda metade do século XIX registraram-se perturbações no equilíbrio demográfico e geo-econômico do império, com o surto cafeeiro no Sul canalizando os recursos financeiros e de mão-de-obra, em detrimento do Nordeste.[44] O empobrecimento crescente dessa região impulsionou ondas migratórias em direção aos estados do Rio de JaneiroMinas Gerais e São Paulo.[44] O movimento de populações tornou-se particularmente ativo durante a seca prolongada no interior nordestino, de 1877 a 1880, expulsando centenas de nordestinos, que rumaram para os seringais em busca de trabalho.[45]
O avanço da migração nordestina processou-se até as margens do Juruá[46] e acelerou a ocupação das terras que mais tarde a Bolívia reclamaria.[28] Os grandes leitos fluviais e a rede de seus tributários eram então intensamente trafegados por flotilhas de embarcações do mais variado porte, transportando colonos, mercadorias e material de abastecimento para os núcleos mais afastados.[28] Os governos do Amazonas e do Pará logo instituíram as chamadas casas aviadoras, que financiavam vários tipos de operações, garantiam créditos e promoviam o incentivo comercial nos seringais.[47]
Planta nativa, a seringueira escondia-se no emaranhado de outras árvores, igualmente nativas, obrigando o homem que saía no encalço da borracha a construir um verdadeiro labirinto, com trilhas em ziguezague na selva.[48] Do seringal surgiu a figura humana do seringueiro, associado à planta para explorá-la. Seringueiro-patrão, beneficiário do crédito da casa aviadora, e seringueiro-extrator, aviado, por sua vez, do patrão.[49] Um morando no barracão, sempre localizado à beira do rio, com aparências de domínio patriarcal, outro, na barraca, de construção tosca, no meio da selva.[49] (De 1920 em diante usa-se o neologismo seringalista para designar o patrão.)[28][48]
Completara-se, assim, antes de findar o século XIX, a ocupação brasileira do espaço geográfico do Acre, onde mais de cinqüenta mil pessoas formavam, no recesso da mata dos três vales hidrográficos, uma sociedade original, cujo objetivo único era produzir borracha.[50] Todo esse labor, porém, se operava no solo da Bolívia, país que, por fatalidade dageografia, não pudera completar a integração social e econômica, e mesmo política e geográfica, dos extensos vales do Acre, do alto Purus e do alto Juruá na comunidade nacional.[48]
Com efeito, o artigo 2º do Tratado de Ayacucho, concluído pelo Brasil e pela Bolívia em 1867, mandara que a linha de fronteira fosse uma paralela tirada da foz do rio Beni com oMamoré (10º20'), até encontrar a nascente do Javari.[51] Com um adendo: se o Javari tivesse as nascentes ao norte dessa linha leste-oeste, a fronteira correria, desde a mesma latitude, por uma reta a buscar a origem principal do Javari.[51]
No ano de 1877, no entanto, época dos primeiros estabelecimentos de brasileiros no Acre, ninguém sabia por onde passava o limite previsto naquele tratado. Ignorava-se, por outra parte, a exata latitude da nascente do Javari. Eram problemas técnico-geográficos difíceis de solver com presteza, devido à falta de recursos materiais. A direção dos rios daborracha foi a trilha natural da conquista nordestina (sobretudo do cearense), da qual também participaram grupos de paraenses e amazonenses.[48]

[editar]Revolução Acreana

Gálvez, Imperador do Acre.
Em 1890, um oficial bolivianoJosé Manuel Pando, alertou seu governo para o fato de que na bacia hidrográfica do Juruá havia mais de 300 seringais, com a ocupação dos brasileiros implantando-se cada vez mais rapidamente em solo da Bolívia.[48] A penetração brasileira avançara em profundidade para oeste do meridiano de 64º até além do de 72º, numa extensão de mais de mil quilômetros, muito embora já estivessem fixadas as fronteiras acima da confluência do Beni-Mamoré, segundo o tratado de 1867.[52][48]
Nomeou-se, em 1895, nova comissão para o ajuste da divisória.[53] O representante brasileiroGregório Taumaturgo de Azevedo, demitiu-se após verificar que a ratificação do tratado de 1867 iria prejudicar os seringueiros ali estabelecidos.[54][55] Em 1899, os bolivianos estabeleceram um posto administrativo em Puerto Alonso, cobrando impostos e lançando taxas aduaneiras sobre as atividades dos brasileiros.[56] No ano seguinte, o Brasil aceitou a soberania da Bolívia na zona, quando reconheceu oficialmente os antigos limites na confluência Beni-Mamoré.[48]
Os seringueiros, alheios às tramitações diplomáticas, julgaram lesados seus interesses e iniciaram movimentos de rebeldia. No mesmo ano em que a Bolívia implantou administração em Puerto Alonso (1899),[56] registraram-se duas sérias contestações.[48]
Em abril, um advogado cearense, José Carvalho, liderou uma ação armada, que culminou na expulsão das autoridades bolivianas. Logo depois a Bolívia iniciou negociações com um truste anglo-americano, o Bolivian Syndicate, a fim de promover, com poderes excepcionais (cobranças de impostos, força armada), a incorporação política e econômica do Acre a seu território. O governador do AmazonasJosé Cardoso Ramalho Júnior, informado do ajuste por um funcionário do consulado boliviano em Belém, o espanhol Luis Gálvez Rodríguez de Arias, enviou-o à frente de contingentes militares para ocupar Puerto Alonso.[53][48]
Gálvez proclamou ali a República do Acre, tornando-se seu presidente com o apoio dos seringalistas. O novo estado tinha o objetivo de afastar o domínio boliviano para depois pedir anexação ao Brasil, a exemplo do que fizera o Texas, na América do Norte. Ante os protestos da Bolívia, o presidente Campos Sales extinguiu a efêmera república (março de1900, oito meses após sua criação).[53] Luis Gálvez teve que capitular e retirou-se para a Europa.[48]
Reinstalaram-se, então, os bolivianos na região, onde sofreram, a seguir, ataque de uma outra expedição que se constituíra em Manaus, com a ajuda do novo governador Silvério Néri, que também se opunha, nos bastidores, ao domínio da Bolívia sobre o Acre, de onde provinham, em forma de impostos, grandes quantias para o tesouro estadual. Composta de moços intelectuais, da boêmia de Manaus, a "Expedição dos Poetas" desbaratou-se após rápido combate em frente a Puerto Alonso (dezembro de 1900).[57][48]

[editar]Ação de Plácido de Castro e intervenção diplomática

Por fim, comerciantes e proprietários no rio Acre resolveram entregar a chefia de nova insurreição a um ex-aluno da Escola Militar de Porto AlegreJosé Plácido de Castrogaúchode São Gabriel, que, à frente de um corpo improvisado de seringueiros, iniciou operações na vila de Xapuri, no alto Acre, e aí prendeu as autoridades bolivianas (agosto de1902).[48][58] Depois de combates esparsos e bem-sucedidos, Plácido de Castro assediou Puerto Alonso, logrando a capitulação final das forças bolivianas (fevereiro de 1903).[53][58]
Influíra no espírito de Plácido de Castro o fato de haver a Bolívia arrendado o território do Acre a um sindicato estrangeiro (chartered company), semelhante aos que operavam naÁsia e na África.[59] O Bolivian Syndicate, constituído por capitais ingleses e americanos, iria empossar-se na administração do Acre, dispondo de forças policiais e frota armada. Representantes dessa companhia chegaram à vila de Antimari (rio Acre), abaixo de Puerto Alonso, mas desistiram da missão porque os revolucionários dominavam todo o rio, faltando pouco para o fim da resistência boliviana.[60]
Aclamado governador do Estado Independente do Acre, Plácido de Castro organizou um governo em Puerto Alonso. Daí por diante a questão passou à esfera diplomática. O barão do Rio Branco assumira o Ministério do Exterior e seu primeiro ato foi afastar o Bolivian Syndicate. Os banqueiros responsáveis pelo negócio aceitaram em Nova York a proposta do Brasil: dez mil libras esterlinas como preço da desistência do contrato (fevereirode 1903).[60][58]
Subseqüentemente, Rio Branco ajustou com a Bolívia um modus vivendi que previa a ocupação militar do território, até o paralelo de 10º20', por destacamentos do Exército Brasileiro, na zona que se designou como Acre Setentrional. Do paralelo 10º20, para o sul — o Acre Meridional — subsistiu a governança de Plácido de Castro, sediada em Xapuri.[60][58]
17 de novembro de 1903, Rio Branco e o plenipotenciário Assis Brasil assinaram com os representantes da Bolívia o tratado de Petrópolis, pelo qual o Brasil adquiriu o Acre por compra (dois milhões de libras esterlinas, ou 36.268 contos e 870 mil-réis em moeda e câmbio da época), e por troca de territórios (pequenas áreas no Amazonas e no Mato Grosso).[60][58]
Em conseqüência, dissolveu-se o Estado Independente, passando o Acre Meridional e o Acre Setentrional a constituírem o Território Brasileiro do Acre, organizado, segundo os termos da lei n° 1.181, de 25 de fevereiro de 1904, e do decreto 5.188, de 7 de abril de 1904, em três departamentos administrativos: o do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juruá, chefiados por prefeitos da livre escolha e nomeação do presidente da república.[60][58]
Solucionada a parte da Bolívia, um outro caso tinha de ser resolvido com o Peru. O governo de Lima, alegando validez de títulos coloniais, reivindicava todo o território do Acre e mais uma extensa área do estado do Amazonas.[61] Delegações administrativas e militares desse país tentaram estabelecer-se no Alto Purus (19001901 e 1903) e no Alto Juruá (1898 e 1902).[61] Os brasileiros, com seus próprios recursos, forçaram os peruanos a abandonar o Alto Purus (setembro de 1903).[62]
Rio Branco, para evitar novos conflitos, sugeriu um modus vivendi para a neutralização de áreas no Alto Purus e no Alto Juruá e o estabelecimento de uma administração conjunta (julho de 1904). Isso não impediu um conflito armado entre peruanos e um destacamento do exército brasileiro em serviço no recém-criado departamento do Alto Juruá. A luta findou com a retirada das forças peruanas.[60][58]
À luz dos títulos brasileiros e dos estudos das comissões mistas que pesquisaram as zonas do Alto Purus e do Alto Juruá, Rio Branco propôs ao governo do Peru o acerto de limites firmado a 8 de setembro de 1909.[63] Com esse ato completou-se a integração político-jurídica do território na comunidade brasileira.[63][58]

[editar]Movimento Autonomista - De Território a Estado

Memorial dos Autonomistas, localizado na capital Rio Branco.
A evolução do Acre aparece como fenômeno típico de penetração moderna na história do Brasil, acompanhada de importantes contribuições na projeção econômica do país. Exercendo papel de destaque na exportação nacional até 1913, quando se iniciou da borracha nos mercados europeu e norte-americano, o Acre conheceu um período de grande prosperidade: na passagem do século, em menos de um década contava com mais de 50.000 habitantes.
Logo após a anexação do Acre ao Brasil, os acreanos esperavam pela sua elevação a Estado o mais rápido possível, uma vez que, nessa época (Auge do Ciclo da Borracha), o Acre representava 1/3 do PIB brasileiro. Porém isso não aconteceu.
Atendendo às disposições jurídicas do Tratado de Petrópolis, o presidente Rodrigues Alves sancionou a lei que criava o Território do Acre (1904) - o primeiro do país - dividindo o Território em três departamentos: o do Alto Acre, o do Alto Purus e o do Alto Juruá, este último desmembrado para formar o do Alto Tarauacá em 1912. A administração departamental exercia-se, até 1921, por prefeitos designados pelo Presidente da República.
Essa subjulgação causou intensas revoltas da população. Foi o caso da revolta de Cruzeiro do Sul, em 1910, que depôs o Prefeito Departamental do Alto Juruá e proclamou criado o Estado do Acre (a chamada Revolta do Alto Juruá). Cem dias depois, entretanto, as tropas federais atacaram os revoltosos e restabeleceram a "ordem" e a tutela. Em 1913, um movimento de revolta ocorreria no Purus, em Sena Madureira, por motivos muito semelhantes ao do Alto Juruá. Em 1918, seria a vez da luta autonomista chegar ao vale do Acre, em Rio Branco, que protestou intensamente contra a manutenção daquela situação de subjugação ao governo federal. Porém ambas as revoltas foram igualmente sufocadas à força pelo governo brasileiro.
A partir do fracasso das revoltas, a luta pela autonomia não recorreu mais às armas. Depois disso, a reforma política de 1920 - que unificou as quatro prefeituras departamentais em um único governo territorial - serviu para acalmar o vale do Acre, que foi beneficiado pela reforma, já que para capital do Território foi escolhida Rio Branco.
Com a queda do Ciclo da Borracha (1920), o movimento autonomista foi perdendo força, ressurgindo apenas uma década mais tarde, quando a Revolução de 1930 alterou completamente os rumos da república brasileira. Nesse momento, os acreanos acreditaram que poderiam, enfim, conquistar a tão sonhada autonomia. Mas foi em vão.
Com a constituição de 1934, o Acre só obteve o direito de eleger dois deputados federais para representá-lo na Câmara Federal, sem alterar o regime de indicação dos governadores do território. Seguiu-se mais um longo período em que as discussões autonomistas não passavam de conversas em intermináveis reuniões e de fundações de agremiações políticas e jornais que tinham como bandeira maior o autonomismo. Multiplicaram-se os simulacros de partidos políticos: Legião Autonomista, Partido Construtor, Partido Autonomista, Partido Republicano do Acre Federal, Comitê Pró-autonomia, etc. Assim como se multiplicavam os títulos de jornais com apelo autonomista, como por exemplo: O Estado, O Autonomista, O Estado do Acre, etc.
Impulso mesmo o movimento autonomista só voltaria a ter em meados da década de 50, quando o PSD, do ex-governador José Guiomard dos Santos, resolveu assumir essa bandeira e elaborar um projeto de lei que transformava o Acre em Estado. Esse projeto causou grande movimentação política em todo o Acre e chegou ao Congresso Nacional em1957, provocando uma intensa disputa política entre o PTB de Oscar Passos e o PSD de Guiomard Santos, tendo o primeiro se posicionado contra a lei de transformação do Acre em Estado.
Depois de muitas disputas no Congresso Nacional, finalmente em 1962, durante a fase parlamentarista do governo João Goulart, foi assinada a lei 4.070, de autoria do então deputado Guiomard Santos. Por uma ironia política, o Presidente João Goulart era do PTB, o partido que, a nível nacional, se colocava contra o tal projeto. Ainda assim, o projeto foi aprovado e passou a vigorar a partir do dia 15 de junho de 1962.
O PTB, todavia, não foi de todo derrotado. Nas primeiras eleições livres e diretas realizadas na história do Acre, o PTB foi o grande vencedor, fazendo o primeiro governadorconstitucional do Acre, o Professor José Augusto de Araújo, além de todas as prefeituras municipais acreanas.
Na década de 1960 iniciou-se o segundo ciclo de esforços para acelerar o progresso da área amazônica, com a criação da Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM,1966). Procurou-se melhor entrosar os subsetores regionais dentro do próprio Estado, concorrendo para isso os ramais da Transamazônica, que ligaram Rio Branco eBrasiléia, no alto curso do Acre, e Cruzeiro do Sul, às margens do Juruá, cortando os vales do Purus e do Tarauacá. Incrementou-se a política de planejamento, destinada a corrigir as distorções demográficas, econômicas e políticas da integração nacional.

[editar]Século XXI

Em 2005 foi iniciada a construção da Rodovia Interoceânica, que dará ao Brasil, pelo Acre, acesso a três portos peruanos no Oceano Pacífico (Ilo, Maratani e San Juán) para facilitar as exportações para a Ásia.[64] Prevista para 2009, a obra já foi adiada para o fim de 2010, com custo de cerca de 2 bilhões de dólares.[65]
Em 2007, a Assembleia Legislativa do Acre aprovou uma regularização fundiária para legimitar a posse e a alienação de propriedades públicas rurais, que beneficia 600 famílias em cerca de dez municípios.[66] Em junho de 2008 entrou em vigor a lei que alterou os fusos horários brasileiros e o Acre passou a ter uma hora a menos, e não duas, em relação ao fuso de Brasília.[67] Apesar do referendo, o Acre mantém o antigo fuso horário [67][65]
Em setembro de 2008 o Brasil reforçou o efetivo do Exército na fronteira do Acre com o departamento boliviano de Pando.[68] Essa se tornara instável com o massacre de 30 camponeses bolivianos, feito por opositores ao referendo de aprovação de uma nova Constituição,[69] mas o conflitos se dissiparam com a realização do referendo na Bolívia, emjaneiro de 2009.[70] Nas eleições de outubro de 2008, o prefeito de Rio Branco, Raimundo Argelim (PT), foi reeleito no primeiro turno, com 50,82% dos votos.[71][65]
Em outubro de 2010, Tião Viana (PT) foi eleito governador, com 50,50% dos votos válidos contra o seu adversário, o candidato Tião Bocalom (PSDB).[72]
Em dezembro de 2011 o estado ganhou o seu primeiro shopping center, na cidade de Rio Branco.[73][74][75][76][77]

[editar]Geografia

O estado do Acre ocupa uma área de 152.581 km², localizado no extremo oeste do Brasil, localiza-se a 70º00'00" de longitude oeste do Meridiano de Greenwich e a 09º00'00" delatitude sul da Linha do Equador e com fuso horário -4 horas em relação a hora mundial GMT. Dista 10º00'00" ao sul da Linha do Equador. No Brasil, o estado faz parte da região Norte, fazendo divisa com os estados do Amazonas e Rondônia e fronteira com dois países: Peru e Bolívia.
Praticamente todo o relevo do estado do Acre se integra no baixo platô arenítico, ou terra firme, unidade morfológica que domina a maior parte da Amazônia brasileira. Essesterrenos se inclinam, no Acre, de sudoeste para nordeste, com topografia, em geral, tabular. No extremo oeste se encontra a Serra da Contamana ou do Divisor, ao longo dafronteira ocidental, com as maiores altitudes do estado (609 m). Cerca de 63% da superfície estadual fica entre 200 e 300m de altitude; 16% entre 300 e 609; e 21% entre 200 e 135.
clima é quente e muito úmido, do tipo Am de Köppen, e as temperaturas médias mensais variam entre 24 °C e 27 °C, sendo a menor média da Região Norte. As chuvas atingem o total anual de 2.100mm, com uma nítida estação seca nos meses de junho, julho e agosto. A Floresta Amazônica recobre todo o território estadual. Muito rica em seringueirasda espécie mais valiosa (Hevea brasiliensis) e Castanheiras (Bertholletia excelsa), a floresta garante ao Acre o lugar de maior produtor nacional de borracha e castanha. Os principais rios do Acre, navegáveis principalmente nas cheias (JuruáTarauacáEnviraPurusIaco e Acre), atravessam o estado com cursos quase paralelos e que só vão confluir fora de seu território.

[editar]Demografia

censo de 2010 contabilizou que o Acre possui 707.125 habitantes. O censo de dez anos, registrou o número de 557.526 habitantes. Em 1991, foram contados 417.165 hab. Oíndice de crescimento foi de 3,3% ao ano, acima, portanto, da média nacional que, no mesmo período (1991-2006), foi de 1,33%. Estimativa para 2008, 680.073 hab.
Em 2000, 66,41% da população moravam nas cidades, e desses, 89,42% viviam na capital. No interior, a população vive dispersa ao longo dos rios, ocupada na extração deborrachacastanha e madeiras.
As densidades demográficas, em 2006, mostravam-se bastante homogêneas. Na região mais povoada, a do baixo Acre, havia 17,2 hab./km² e, na menos povoada, a do alto Purus, 1,1 hab./km².
Na formação da população acreana entraram, além dos índios, os nordestinos - principalmente cearenses - que aí chegaram maciçamente durante o período áureo da borracha (1880-1913) e os sulistas, que chegaram maciçamente durante a década de 70 em diante.
Houve também imigrações de árabes (principalmente sírios-libaneses) e italianos (sendo ambas as maiores na Região Norte), além de japoneses, alemães e eslavos (esses em pequena escala).

[editar]Evolução demográfica


Evolução demográfica do estado do Acre.

[editar]Principais centros urbanos

  • Rio Brancocapital e centro administrativo, econômico e cultural, e também o mais populoso município, com 335 796 habitantes, quase metade da população estadual.
  • Cruzeiro do Sul é a segunda maior cidade acreana e um porto do rio Juruá, sendo também a mais desenvolvida da mesorregião que recebe o mesmo nome.
Outros municípios mais populosos são (IBGE 2009): Sena Madureira, com 37 993 habitantes; Tarauacá, com 35 526 habitantes; Feijó com 32 311 habitantes e Brasileia, com 21 438 habitantes.

[editar]Desenvolvimento Humano

IDH do Acre é de 0.751, posicionando-se na décima sétima posição no ranking brasileiro, sendo que 16 estados estão em situação melhor, e 9 estados estão em situação pior ou igual: As cidades com melhor desempenho são: Rio BrancoSenador GuiomardEpitaciolândiaPlácido de Castro e Acrelândia.
Posição no ranking brasileiroMunicípioIDH
1767Rio Branco0,754
2980Senador Guiomard0,701
3244Epitaciolândia0,684
3266Plácido de Castro0,683
3291Acrelândia0,68

[editar]Etnias

Cor/Raça (IBGE 2006)[79]Porcentagem
Pardos66,5%
Brancos26,0%
Negros6,8%
Amarelos ou indígenas0,7%
Fonte: PNAD (dados obtidos por meio de pesquisa de autodeclaração).
Existem no Acre, 34 terras indígenas ocupadas por mais de 12.000 índios, que representam 2% da população total do Estado. Esse contingente populacional pertence a 14 diferentes etnias, de línguas Pano, Aruak e Arawá: (YaminawaManchineriKaxinawáAshaninkaShanenawaKatukinaArara,NukiniPoyanawaNawaJaminawa-Arara e Isolados). As etnias isoladas, sem contato com a sociedade, têm o seu território tradicional ao longo da fronteira internacional Brasil-Peru.[80]

[editar]Política

Política do Acre
Ficha técnica
GovernadorTião Viana (PT).
Vice-GovernadorCarlos César Messias (PP)
SenadoresAníbal Diniz (PT)
Deputados Federais8
Deputados Estaduais24
Eleitores412.840 (0,3% do eleitorado brasileiro - 2006).
Sede do governo
NomePalácio Rio Branco
Página governamental
Endereçohttp://www.ac.gov.br
O estado do Acre é governado por três poderes, o executivo, representado pelo governador, o legislativo, representado pelaAssembleia Legislativa do Acre, e o judiciário, representado pelo Tribunal de Justiça do Estado do Acre e outros tribunais ejuízes. Também é permitida a participação popular nas decisões do governo através de referendos e plebiscitos.
A atual constituição do estado do Acre foi promulgada em 1989,[81] acrescida das alterações resultantes de posterioresEmendas Constitucionais.
Palácio Rio Branco, primeira sede dogoverno do Acre. Só em 1962 o antigoterritório do Acre se tornou estado.
Poder Executivo acreano está centralizado no governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto, pela população para mandatos de até quatro anos de duração, e podem ser reeleitos para mais um mandato. Sua sede é o Palácio Rio Branco, que desde 1930 é a sede do governo acreano.
Poder Legislativo do Acre é unicameral, constituído pela Assembleia Legislativado Acre, localizado no centro de Rio Branco. Ela é constituída por 24 deputados, que são eleitos a cada 4 anos. No Congresso Nacional, a representação acreana é de 3 senadores e 8 deputados federais.
A maior corte do Poder Judiciário acreano é o Tribunal de Justiça do Estado do Acre, localizado no centro de Rio Branco. Compõem o poder judiciário osdesembargadores e os juízes de direito.
O Acre está dividido em 22 municípios. O mais populoso deles é a capital, Rio Branco, com 300 mil habitantes, sendo omunicípio mais rico do estado.

[editar]Subdivisões

O estado do Acre é dividido em duas (2) mesorregiões, cinco (5) microrregiões e vinte e dois (22) municípios, segundo o IBGE.
O estado do Acre dividido em suas mesorregiões, microrregiões e municípios.

[editar]Economia

Passarela Joaquim Macedo, símbolo da capital acreana, Rio Branco, centro político e financeiro do estado.
O modelo de desenvolvimento econômico baseia-se, primordialmente, no extrativismo, com destaque para extração de madeira por meio de manejo florestal, o que, teoricamente, garante o uso econômico sustentável da floresta.
Banco Interamericano de Desenvolvimento - BID - financia um projeto de US$ 106 milhões no Estado, visando dotá-lo de infraestrutura física e institucional que viabilize o sucesso do projeto de desenvolvimento sustentável.
Controvérsias sobre o modelo de desenvolvimento escolhido passa por questões como a ausência de consenso quanto à recuperação das áreas exploradas pelos planos de manejo e pela exclusão, na prática, de efetivos benefícios às populações locais (apesar de previsão no projeto).
economia acreana repousa na exploração de recursos naturais. Os mais importantes são a borracha e a castanha, produtos nos quais se basearam o povoamento da região. A extração da borracha se faz ao longo dos rios, pois a seringueira é árvore de mata de igapó. Os tipos produzidos são caucho, cernambi caucho, cernambi rama e cernambi seringa. A maior parte da produção estadual cabe à bacia dorio Purus. Nessa região destaca-se o vale do rio Acre, que, além de possuir o maior número de seringueiras, é também região rica emcastanheiras, fazendo do estado o maior produtor e exportador nacional de castanha. A floresta acreana é também objeto de exploraçãomadeireira, e a caça nela praticada parece contribuir de forma substancial para a alimentação local.
agricultura reduz-se a pequenas culturas de mandiocafeijãocana-de-açúcar e arroz. A indústria de transformação compreende pouco mais que algumas serrarias e pequenasfábricas de rapadura e de farinha de mandioca.
Como os rios mantêm no estado cursos aproximadamente paralelos, as comunicações entre os diversos vales se fazem pelas confluências, o que envolve longos percursos. Com a conclusão das estradas que integram a ligação Rio Branco-Porto Velho-Cuiabá-Limeira, o Acre passou a contar com transporte rodoviário para o Sudeste do Brasil.

[editar]Agricultura

Um dos principais produtores de borracha (Hevea brasiliensis) no país, o Acre apresentou em 2008 a produção de 845 t,[82]representando pouco mais de um quarto do total nacional. Na região de Abunã, um seringueiro chega a produzir 1,5 t de borracha por safra. Os tipos produzidos são "caucho", "cernambi caucho", "cernambi rama" e "cernambi seringa". A coagulação ainda é feita pelo processo da defumação. A produtividade média é de dois quilos de látex por hévea.
Imagens de Rio Branco, capital do Estado.
A coleta de Castanha-do-Brasil é também atividade importante, realizada, em geral, peloseringueiro, como ocupação subsidiária, na época das chuvas. Sua safra não é regular. A produção acreana em 2009 foi de 20 t, representando 20% de toda a produção nacional, sendo a maior do Brasil.[83] A madeira tem também importância econômica na região, sendo a produção de lenha em 2008 de 679.077 m³.[82] O método de extração é rudimentar, sendo usadas serras manuais e, assim mesmo, só nos centros mais adiantados. A lavoura é, em geral, de subsistência, não tendo condições para se manter diante dos altos rendimentos daatividade extrativa. Os principais produtos agrícolas do Acre, em 2008, apresentaram os seguintes resultados: arroz (28.569 t),[84] cana-de-açúcar (52.609 t),[84] feijão (5.779 t),[84]mandioca (730.434 t)[84] e milho (61.088 t).[84]

[editar]Pecuária, pesca e mineração

pecuária começou a ser desenvolvida só a partir da década de 1970. O solo utilizado nosplantios desgasta-se pelas derrubadas e queimadas e passa a construir área de magra pastagem. Não há campos naturais e os que são abertos na mata, se ainda não esgotados pela lavoura, são facilmente invadidos pela capoeira. Em 2008, contava o Acre com 155.861 suínos,[85] 2.425.687 bovinos,[85] 77.623 ovinos,[85] 7.201 muares,[85] 60.668eqüinos[85] e 15.433 caprinos.[85]
pesca é praticada em pequena escala, sendo na maioria dos casos de subsistência. Em 2005, foram produzidas 3.510 t depescado,[86] a antepenúltima produção do país. A mineração é escassa e caracterizada pela garimpagem mais primitiva — feita através de bateias —, sendo desconhecidos dados estatísticos de sua produção.

[editar]Indústria

indústria do estado, em 2009, ocupava 13 mil pessoas[87] em 1416 estabelecimentos e unidades,[88] que produziram bens no valor de R$ 773 milhões. A indústria ainda é de pouca escala no estado, sendo em grande parte de produtos alimentícios, como queijos, manteiga, refrigerantes e outros; e à transformação rudimentar de alguns produtosagrícolas, como a farinha de mandioca e o açúcar bangüê. O estado também possui indústrias na produção de barcos, carrocerias de caminhões, laminados e pisos de madeira,móveis, vidros temperados, preservativos (sendo a única do mundo a usar borracha natural proveniente de látex nativo), dentre outros produtos. Nas colônias mais importantes do Alto Juruá e do Alto Purus, ou mesmo em locais que possam atender em várias colônias, estão instalados "conjuntos mecânicos", pertencentes quase todos aogoverno. Nos conjuntos mecânicos encontram-se máquinas para debulhar o milho, descorticar o arroz, ralar, prensar e cozer a mandioca, além de moendas e tochas para o fábrico de açúcar de cana. A potência instalada das usinas geradoras em 2004 é de 331 GWh, com um consumo mínimo de 405 GWh.[89] Atualmente o estado possui 2 Distritos Indústriais: 1 na capital Rio Branco e outro no município de Acrelândia.
No estado está sendo criada a chamada ZPE (Zona de Processamento para Exportação), um Distrito Industrial incentivado, onde as empresas localizadas operam com redução/suspensão de impostos e contribuições federais e liberdade cambial (podem manter no exterior 100% das divisas obtidas nas exportações), com a condição de destinarem pelo menos 80% de sua produção de bens e serviços ao mercado externo, pretendendo levar os produtos fabricados no Acre para os mercados da Bolívia, Peru e os países asiáticos, quando concluída a Estrada do Pacífico. A ZPE do Acre será localizada na BR-317, entre a capital Rio Branco e o município de Senador Guiomard.[90]

[editar]Comércio

A quase totalidade do comércio do estado é feita por via fluvial e em pequena escala por via aérea. O Acre exporta quase tudo o que produz e importa praticamente tudo que consome. A pauta de exportação resume-se na madeira compensada e perfilada (49%),[91] madeira serrada ou em folha (27%),[91] frutas (21%)[91] e outros (3%),[91] convergindo na totalidade para os estados do Amazonas e Pará, de preferência para Belém, origem também da maioria de suas compras. O comércio com o limita-se a compra de gado em pé e gêneros alimentícios da Bolívia, frequentemente de caráter ilegal. Em março de 2010 o valor da exportação por cabotagem foi de US$ 15.727.499[92] e a importação de US$ 15.059.156.[92]
Composição econômica[93]
Serviços
68,2%
Agropecuária
17,2%
Indústria
14,7%

[editar]Produto Interno Bruto


Evolução do PIB do Estado do Acre[94]

[editar]Infraestrutura

[editar]Educação

Resultados no ENEM
AnoPortuguêsRedação
2006[95]
Média
31,05 (25º)
36,90
47,97 (24º)
52,08
2007[96]
Média
43,60 (25º)
51,52
54,78 (17º)
55,99
2008[97]
Média
35,15 (25º)
41,69
57,62 (17º)
59,35
ensino fundamental contava em 2008 com 1.593 escolas, com o corpo docente de 7.476professores e 164.043 alunos matriculados. Contava o ensino médio com 111 escolas, 1.594 professores e 33.113 matrículas. O ensino infantil calculava 275 pré-escolas, 1.052 professores e 22.104 alunos. O ensino superior era ministrado em 2007, em 9 estabelecimentos, com 17.840 alunos matriculados.
Em 2008, a taxa de analfabetismo no estado é de 13%, uma das mais equilibradas do Brasil. Da população, 36,2% dos acreanos são analfabetos funcionais.
As principais universidades do Acre são: Instituto Federal do AcreUniversidade Federal do Acre (públicas), União Educacional do Norte e Instituição de Ensino Superior do Acre (particulares).

[editar]Saúde

Em 2005, havia no estado 337 estabelecimentos hospitalares, sendo 282 públicos e 55 particulares, com um total de 1.561 leitos. Dos 337 hospitais, 227 eram de finalidade geral e 221 eram especializados. Dos 7 municípios existentes em 1970, apenas Rio Branco possuía abastecimento de água encanada, embora não possuía serviço de esgoto, o que impede o controle de disenteria amebiana endêmica. Em 2005, o estado possuía 48% de acesso à água 44,3% de acesso à rede de esgoto. Em 2006, a mortalidade infantil era de 20,7 por 1.000 nascidos vivos, sendo a malária a principal causa de morte. Povoações distantes entre si por dia de caminhada na floresta, e que por vezes, no período das chuvas, ficam completamente isoladas, dificultam a irradiação da saúde pública.

[editar]Segurança pública

Segundo o Exército Brasileiro, o Acre integra o Comando Militar da Amazônia, que tem sede em Manaus, destacando os pelotões defronteira.De acordo com a Força Aérea Brasileira, o estado integra o VII Comando Aéreo Regional (VII COMAR), também sediado em Manaus, se destacando o Destacamento de Controle de Espaço Aéreo de Rio Branco (DTCEA-RB) e o Destacamento de Controle Aéreo de Cruzeiro do Sul (DTCEA-CZ), ambos pertecentes ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo IV (CINDACTA IV), o estado não possui uma Base Aérea. Não existem, no estado, unidades da Marinha.
Polícia Militar do Estado do Acre (PMAC) tem por função primordial o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública no Estado do Acre. Para fins de organização é uma Força Auxiliar e Reserva do Exército Brasileiro, assim como suas co-irmãs e integra o Sistema deSegurança Pública e Defesa Social brasileiro e está subordinada ao Governo do Estado do Acre. Seus integrantes são denominados militares estaduais (artigo 42 da CRFB), assim como os membros do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre.
O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Acre (CBMAC) é uma Corporação cuja principal missão consiste na execução de atividades deDefesa Civil, Prevenção e Combate a Incêndios, Buscas, Salvamentos e Socorros Públicos no âmbito do estado do Acre. Ele é Força Auxiliar e Reserva do Exército Brasileiro, e integra o Sistema de Segurança Pública e Defesa Social do Brasil. Seus integrantes são denominados Militares dos Estados pela Constituição Federal de 1988, assim como os membros da Polícia Militar do Estado do Acre.
Polícia Civil do Estado do Acre, é uma das polícias do estado do Acre, Brasil, órgão do sistema de segurança pública ao qual compete, nos termos do artigo 144, § 4º, da Constituição Federal e ressalvada competência específica da União, as funções de polícia judiciária e de apuração das infrações penais, exceto as de natureza militar.
A mais importante instituição penitenciária é a Colônia Penal e Agrícola Evaristo de Morais, em Rio Branco.

[editar]Transportes

Acesso a Senador Guiomard pelarodovia estadual AC-040.
As principais rodovias do Acre são:
  • BR-364 - Juntamente com a BR-317 é a principal rodovia do Acre. A leste liga Rio Branco ao estado de Rondônia e ao restante do país. A oeste corta todo o estado, ligando a capital do estado aCruzeiro do Sul, segunda principal cidade do estado, passando pelos municípios de BujariSena MadureiraManoel UrbanoFeijóTarauacá e Rodrigues Alves.
  • BR-317 - Tem extensão de 330 km, liga a capital ao sul do estado, passando pelos municípios deSenador GuiomardCapixabaBrasileia na fronteira com a República da Bolívia, a partir de Brasileia a estrada continua por mais 110 km até chegar na cidade de Assis Brasil, já na fronteira com o Peru. A rodovia tornar-se-á um importante eixo de exportação do Brasil, pois quando a estrada no lado peruano estiver concluída (estima-se que em 2011), o Brasil estará totalmente ligado a Cuzco e aos dois principais portos do país vizinho.
  • AC-040 - Possui extensão de 100 km, liga Rio Branco até a cidade de Plácido de Castro também fazendo fronteira com a Bolívia.
  • AC-401 - Também chamada de estrada do agricultor, com extensão de 50 km, liga a cidade de Plácido de Castro à cidade de Acrelândia, já próxima da BR-364.
  • AC-010 - Tem extensão de 55 km, Ligando Rio Branco até a cidade história de Porto Acre, já na divisa com o Amazonas.

[editar]Comunicações

Os principais jornais do estado são: O EstadoA GazetaO Rio Branco e A Tribuna. As principais estações e emissoras de televisão do estado são: TV AldeiaTV AcreTV 5TV Rio BrancoTV Gazeta Rio BrancoTV União Rio BrancoTV 40TV CTV Cruzeiro do SulTV Ituxi e TV Integração. As principais estações de rádio do estado são: Rádio Aldeia FM, Rádio Gazeta FM, Rádio União FM, Rádio Educativa FM, Rádio Acre FM e Rádio Boas Novas FM, Rádio Progresso AM, Rádio Líder AM, Rádio Universitária FM e Rádio Aldeia FM, todas na capital do estado, Rio Branco. Em outros municípios, não há estações de rádio.

[editar]Cultura

A cultura do Acre é muito parecida com a dos outros Estados da região Norte. A comida típica utiliza o pato e o pirarucu, que herdou dos índios, e o bobó de camarão, vatapá e carne de sol com macaxeira, trazido do Nordeste brasileiro logo quando iniciou a extração do látex, já que muitos nordestinos migraram para o Acre tentando uma melhorqualidade de vida.
Usina de arte João Donato, importante polo de produção e difusão cultural.
No artesanato os artigos confeccionados com materiais extraídos da floresta amazônica. Do seringal surgiu a figura do seringueiro, que colaborou em momentos importantes da história brasileira para o desenvolvimento do país, trabalhando duro na extração do látex na floresta amazônica. Da floresta também surgiu Chico Mendes, que hoje é considerado referência internacional na luta em defesa da Amazônia; Chico Mendes foi assassinado em 22 de dezembro de 1988 e ganhou um prêmio único da ONU, o Prêmio Global 500 Anos, por defender e proteger a floresta amazônica.
Em Rio Branco encontra-se uma comunidade religiosa chamada Alto Santo (Centro de Iluminação Cristã Universal) que pratica o Ritual do Santo Daime, típico do Acre, de origem indígena, que usa o Daime, um chá natural feito com folhas e cipó, usado pelos índios como forma de aproximação a Deus. Todos tomam o chá, inclusive as crianças e os idosos. Os integrantes usam fardas e cantam o hinário.
O Acre já foi retratado como cenário histórico no cinema e na televisão, interpretado por um numeroso elenco de atores consagrados naminissérie Amazônia, de Galvez a Chico Mendes (2007), da mesma autora das telenovelas América (2005) e Caminho das Índias (2009), a acreana Glória Perez.